O relógio, ou melhor, a tela do meu celular, marcava uma hora da tarde quando o trem saiu de Jundiaí.
A primeira parada era em Francisco Morato, onde eu faria uma baldeação e seguiria até a Estação da Luz, em São Paulo. Depois de chegar a uma das estações mais importantes de Sampa, eu ainda teria que pegar a Linha Azul do metrô para ir ao bairro Paraíso.
Com sorte, seria possível fazer todo este deslocamento em uma hora e meia. Porém, como a linha Rubi da CPTM adora operar com velocidade reduzida, o trajeto poderia levar facilmente duas horas ou mais.
Às 14h40 saí feliz da estação Paraíso. Afinal, fazer todo este percurso – no caso, 60 quilômetros – em uma hora e quarenta minutos, não era nada mal. Porém, a empolgação logo foi contida por um tipo de pensamento que sempre surge na minha cabeça: conversão de tempo.
Sim, sofro de uma mania incontrolável de comparar o tempo gasto para me deslocar entre diferentes lugares, e com meios de transporte distintos.
Por exemplo, na situação acima, me lembrei de que com apenas vinte minutos a mais, um avião poderia ter me levado desde o Aeroporto de Guarulhos até Montevidéu, a capital do Uruguai.
Ao invés de ter percorrido menos de 100 quilômetros em uma hora e quarenta, eu poderia ter viajado cerca de 1.600 km em duas horas. Ao invés de comer uma feijoada e tomar uma cerveja Original, que foi o que fiz em São Paulo, minha refeição poderia ter sido um chivito com uma Norteña.
Certa vez, durante um feriado prolongado, meus amigos e eu decidimos ir a Ubatuba.
Em um dia normal quatro horas seriam mais do que suficientes para percorrer os quase 300 quilômetros entre Atibaia e o litoral norte de São Paulo. Como sabíamos que o trânsito estaria complicado, imaginamos – inocentemente – que levaríamos cerca de sete horas.
No entanto, passamos intermináveis 15 horas dentro do carro. Assim como o assunto, a certa altura da viagem nossa comida e água se esgotaram. Aliás, não só a nossa, mas também a do único posto onde pretendíamos comprar algumas coisas. Nossas últimas seis horas na estrada foram com fome, sede, e claro, sem paciência.
Mas é aquela coisa, depois que passa a gente ri. E como não achar graça ao constatar que com as horas gastas neste percurso, poderíamos ter ido – com tempo de sobra – a Nova Iorque?
Ou então, ao perceber que enquanto viajávamos por todo este tempo para ver o mar, alguém saiu de São Paulo e aterrissou na Noruega, para ver a Aurora Boreal?
Como se não me bastasse fazer estes tipos de comparações, outra coisa que acho um tanto curiosa é a maneira como sentimos o tempo passar: às vezes muito depressa, outras, lento demais.
Para mim, quando estou dentro de um ônibus as horas parecem ter bem menos do que 60 minutos. Por outro lado, duas horas em um voo já me deixa impaciente.
Não sei se é pelo desconforto da classe econômica – a única que conheço – pela preguiça do deslocamento e todas as burocracias de aeroportos, ou por um medo inconsciente. Mas o fato é que evito a todo custo viajar de avião.
Quando fui a Belo Horizonte, não tive a menor dúvida de que a minha viagem seria em um ônibus noturno durante nove horas, e não em uma máquina voadora em menos de uma hora e meia.
Já os chicken buses na América Central, embora não fossem nada tediosos e a hora passasse rápido, no final de um dia na estrada ficava com a sensação de que tinha viajado por uma semana inteira.
Me lembro até hoje quando fui de Copán Ruínas, em Honduras, até a cidade de Cobán, na Guatemala. Apesar do tempo de viagem ter sido de apenas nove horas, os tramites nas fronteiras e as cinco trocas de ônibus, me fez sentir que tinha deixado o território hondurenho há muito tempo.
Ou seja, uma viagem bem diferente das mesmas nove horas que me levaram de Sampa a BH.
No entanto, também já passei pela situação em que 30 minutos dentro de um ônibus parecesse uma eternidade.
No meu cérebro, os 50 quilômetros entre Chimaltenango e Antigua, na Guatemala, pareciam não ter fim. Tudo isso graças ao motorista que devia sentir um enorme prazer em dirigir com emoção e observar a cara de pânico dos passageiros.
Pânico que, provavelmente, só não foi maior do que aquele que senti em um voo do México para o Brasil. A ideia de ficar dez horas dentro de um avião já me deixava preocupado semanas antes de embarcar. Como uma pessoa prevenida que sou, tratei de comprar um livro na Cidade do México que fosse capaz de me ocupar durante todo esse tempo.
Com dez minutos de voo achei que já estava na hora de colocar meu plano em ação: ler até dormir e acordar em território brasileiro.
Porém, eis que ao abrir minha mochila percebo que esqueci o livro na bagagem que havia despachado. Embora na hora eu tenha ficado frustrado, o pânico real só surgiu uma hora depois, quando minha tela de entretenimento parou de funcionar e assim permaneceu durante todo o restante do voo.
Acredito que as oito horas seguintes foram as mais longas da minha vida. Nem mesmo as comidinhas e bebidas servidas durante o voo, que por sinal estavam ótimas, evitaram com que eu comparasse a tortura deste voo, com as – agora agradáveis e desejadas – 15 horas até Ubatuba.